sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Resenha: Eleanor & Park

Resenha Eleanor & Park
 

Título: Eleanor & Park (Eleanor and Park)

Autor: Rainbow Rowell

Páginas: 328

Editora: Novo Século 

Lançamento: 2014


UM POUCO SOBRE O LIVRO: 

Sinopse: "Eleanor & Park é engraçado, triste, sarcástico, sincero e, acima de tudo, geek. Os personagens que dão título ao livro são dois jovens vizinhos de dezesseis anos. Park, descendente de coreanos e apaixonado por música e quadrinhos, não chega exatamente a ser popular, mas consegue não ser incomodado pelos colegas de escola. Eleanor, ruiva, sempre vestida com roupas estranhas e “grande” (ela pensa em si própria como gorda), é a filha mais velha de uma problemática família. Os dois se encontram no ônibus escolar todos os dias. Apesar de uma certa relutância no início, começam a conversar, enquanto dividem os quadrinhos de X-Men e Watchmen. E nem a tiração de sarro dos amigos e a desaprovação da família impede que Eleanor e Park se apaixonem, ao som de The Cure e Smiths. Esta é uma história sobre o primeiro amor, sobre como ele é invariavelmente intenso e quase sempre fadado a quebrar corações. Um amor que faz você se sentir desesperado e esperançoso ao mesmo tempo." 

AVALIAÇÃO CRÍTICA 

     Eleanor & Park faz exatamente o tipo de romance que eu gosto: os protagonistas não são perfeitos - fogem dos padrões da nossa sociedade -, não tem um vida nem uma família perfeita, eles não se apaixonam à primeira vista, e, apesar de o foco ser o amor entre os dois, o livro abre espaço para muitos outros assuntos.

     Eleanor é uma personagem excêntrica; ruiva, cabelos rebeldes, roupas masculinas e nada combinando, sapatos desgastados, gravatas como prendedor de cabelo, considera-se gorda - não pude identificar se era uma distorção da sua imagem por consequência das roupas largas ou se ela era realmente gorda. Sua aparência esquisita se deve à decadência financeira, pois ela vive com mais 4 irmãos mais novos, o pai não liga para eles, e desde que a mãe se separou dele, eles estão vivendo com Richie, o novo namorado da mãe.

"Não só por ser uma pessoa nova ali, mas por ser grande e esquisita. Com cabelo bagunçado, bem ruivo, além de cacheado. E se vestia como se... Como se quisesse que as pessoas ficassem olhando. Como se não sacasse que estava um desastre completo. Usava camisa xadrez masculina, meia dúzia de colares estranhos pendurados em volta do pescoço e lenços amarrados nos pulsos. Fez Park pensar num espantalho ou nas bonequinhas das preocupações que ficavam na cômoda da mãe. Enfim, do tipo que não conseguiria sobreviver no colegial."

     Park, por outro lado, é um mestiço descendente de coreanos, amante de HQ's e música, que prefere ficar "invisível" na escola para sobreviver ao Ensino Médio. No primeiro dia de aula, mesmo a contra-gosto, Park permite que Eleanor sente-se ao seu lado no ônibus, e logo percebe que a menina está sempre espiando seus quadrinhos com o canto dos olhos. A partir daí, todo dia ele deixa uma pilha de gibis no assento ao seu lado para que a menina leia e os entregue no dia seguinte.

     Num certo dia Park decide finalmente puxar assunto, e eles percebem mais uma coisa em comum: a paixão por bandas daquela época. Entre dificuldades e singularidades o amor dos dois cresce à medida em que vão se conhecendo melhor. O que nos garante muitos momentos de fofura.

     Ambientado no ano de 1986, o livro é repleto de referências à cultura pop da década de 80 e a histórias em quadrinhos. No primeiro momento achei que a diferença de época seria um problema, mas não houve problema algum; é interessante ver que os jovens de outrora possuíam os mesmos conflitos internos e externos dos atuais.

     Mas Eleanor & Park não nos apresenta apenas as evidências de um primeiro amor. Além da miséria em que a família da garota vive, chegando a não terem escovas de dentes, telefone ou xampu e condicionador, Eleanor ainda tem um padrasto violento e extremamente machista, que bate na mulher e a trata como uma completa submissa tanto na frente das crianças como a sós, acresce que é potencialmente um estuprador. Odiei o babaca do Richie da primeira à última página. Pior personagem, sério. Ele já chegou a expulsar Eleanor de casa e ela teve que passar 1 ano na casa de uns conhecidos da família. O livro tinha grande potencial para tratar mais profundamente a questão da violência doméstica e abuso sexual, porém não foi o que aconteceu. A autora deixou muitas lacunas e retratou essas violências de uma forma que o leitor acaba pondo a culpa na vítima, quando na verdade a vítima nunca é a culpada.

"Como ele olha para mim.
Como se espreitasse.
Não como se me quisesse. Como se esperasse a hora certa. Quando não houver mais nada nem ninguém para destruir.
Como ele espera por mim.
Sabe de tudo que faço.
Como está sempre por perto. Quando estou comendo. Quando estou lendo. Quando estou penteando o cabelo.
Você não sabe.
Porque eu finjo não saber."

     A narrativa acontece em terceira pessoa, alternando entre Park e Eleanor, e a Rainbow Rowell abusou da subjetividade, em momento algum as coisas são explicadas; ficamos somente nas suposições. Alguns podem achar válido e inovador, mas eu tive bastante raiva disso. Eu queria explicações, conclusões... Não esperava um final feliz, mas este final foi super fraco. Deixou-me decepcionada. A história exigia um final melhor, acabei enganada achando que ela explicaria algumas coisas no final. Não necessariamente tudo, mas ao menos algo.

     Outra questão marcante da história é o Bulliyng, presente numa boa parte do livro. Afinal, "Eleanor tem aparência suficiente para ser zoada." Há muitos personagens inertes, deixando-me com mais raiva ainda. Principalmente do Park, no início. Minha personagem favorita sem dúvidas foi a Eleanor, embora tenha ficado frustrada com ela por ter ignorado-o no final.

     Embora tenha vários espaços a serem preenchidos, Eleanor & Park foi uma leitura que valeu cada segundo. Este é um livro fofo, dramático, único, triste, e que me conquistou já nas primeiras páginas. A escrita da Rowell é simples, direta e fluida. Adorei a capa, certamente muito apropriada. Quero uma continuação de Eleanor & Park para já. 

     Recomendo para quem gosta do estilo Geek, de uma história marcante e fofa que te traz diferentes emoções, e, acima de tudo, de um livro singular, porém que pode retratar a realidade de muitas pessoas por aí.

TOP FRASES 

"Eleanor tinha razão. Não tinha boa aparência. Era como uma obra de arte, e arte não deve ter boa aparência, mas sim fazer a gente sentir alguma coisa."

"Era como se suas vidas fossem linhas que se entrecruzavam, como se gravitassem em torno um do outro. Geralmente, esse serendipismo lhe parecia a maior dádiva do universo."

"Porque Park era o Sol, e essa era a única explicação que Eleanor poderia dar."

"A família dele era praticamente os Waltons. Já a família de Eleanor se desajustara antes mesmo de chegar ao inferno. Ela jamais poderia ser aceita na sala de estar de Park. Nunca se sentiria aceita em lugar algum, exceto quando se deitava em sua cama e fingia ser outra pessoa."

"Ele parou de tentar trazê-la de volta. Ela só voltava quando bem entendia, em sonhos e mentiras e déjà-vus partidos."

     Interessou-se? Não custa nada dar uma lidinha, né? Depois volta aqui e diga-nos sua opinião sobre o mesmo. Beijão, até a próxima resenha!

Resenha por: Marcela Carvalho. 


     

     



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